Uma águia feita de água



          Tornasse um balzaquiano, por si, não é uma atividade fácil, pois, sem que percebamos, temos três décadas de aprendizagem, conflitos, fantasmas e vivências que, inevitavelmente, nos proporcionam a oportunidade de se atritar com a vida, e desta sentença, tirar ensinamentos. O balzaquiano, além do fardo das décadas que recaem sobre seus ombros, ainda sofre com um intenso processo de mudança similar ao das águias.
            As águias, ao chegarem à metade do percurso de suas vidas, se deparam com um duro processo de renovação que se não encarado, a morte é a sua única opção. Metaforicamente, balzaquianos e águias se parecem, ambos durante os primeiros trinta anos do percurso de suas vidas, sofrem com a renovação ou morrem pelas velhas competências, convicções ou habilidades.
             Como balzaquiano existencialista, encaro cada acontecimento de minha vida como fruto das minhas escolhas e resultado direto da condenação à liberdade que todos temos que sofrer, para existir. Se a águia quebra o bico para que outro nasça, medimos as palavras pelo que convém em vez do que pelo que condiz. Se as penas velhas precisam ser arrancadas para que outras novas renasçam, temos que nos travestir de outras “personas” grega que encarem o teatro da vida com mais serenidade e leveza. Se as garras da águia não agarram mais, só muita força para se agarrar a dureza das situações para que as mesmas quebrem , e delas, nasçam  outras formas de apreender os objetivos.
            Se não bastasse a semelhança com a águia, um balzaquiano existencialista como eu, tem que, durante essa transição buscar novas penas, penas essas, que devem ser feitas de água. Com penas de água, terei uma maior facilidade de se adequar quando necessário, em gota ou em enxurrada, e assim, me infiltrar e destruir o que se diz intransponível, ou simplesmente, fluir com liquidez.  
            Os voos panorâmicos aos horizontes que a vida me levar, terão os meios como fins e os fins como consequências das escolhas inevitáveis que farei. As expectativas nos voos sobre as paisagens de outrora serão substituídas pela oportunidade de resignificação e paralaxes resilientes. O atrito do contrato de afeto para como o outro não envergará, e sim atrairá o suposto oposto que,  momentaneamente, ofuscou semelhanças notórias.
            Recomposto ou mesmo refeito de outra roupagem, assim como as águias restauradas por uma nova penagem, um novo bico e novas garras, não posarei de pavão misterioso ou ícone de maturidade,  pois assim, recairia em anacronismo tolo e me manteria estático ante ao conflito permanente e constante do que fui, com o que me tornei e com o que me tornarei. Que venha o acaso , o novo, as metamorfoses ambulantes, assim como,as permanências e as rupturas.

Comentários

  1. É para mim uma honra acessar ao seu blog e poder ver e ler o que está a escrever
    reparei que se tem esforçado por nos dar o melhor,
    é um blog que nos convida a ficar mais um pouco e que dá gosto vir aqui mais vezes.
    Posso afirmar que gostei do que vi e li,decerto não deixarei de visitá-lo mais vezes.
    Sou António Batalha.
    Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
    PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se ainda não segue pode fazê-lo
    agora, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.
    Que a Paz de Jesus esteja no seu coração e no seu lar.

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