A infeliz sina de ter carência de heróis

Se tiver uma frase que melhor defina a essência do povo brasileiro, é a máxima de Dostoievski: “Infeliz do povo que tem carência de heróis”. A nossa síndrome de transferência de responsabilidade, a mania doentia, de sempre que possível recorrer ao jeitinho brasileiro e o nosso Estado ineficiente, justificam, bem como, alimentam a nossas carências de heróis, assim como, elege, sistematicamente, candidatos ao cargo.
No dia 22 de julho de 2011, estreou nos cinemas brasileiros a produção cinematográfica que faz alusão ao maior assalto de banco da história do Brasil e o segundo do mundo. O que já se espera de uma direção típica de uma novela global, é um texto recheado de bordões clássicos que fazem graça com a desgraça, cortes previsíveis e um romance diabético, desses, que só exaltam os corpos despidos e desfocam da história geral. O que mais desconforta, é você se deparar com filas homéricas nos cinemas do Brasil, para assistir “O assalto do Banco Central” que traduzem, explicitamente, o jeitinho brasileiro, tão bem exaltado e praticado pelos seus integrantes, nos furos e na venda dos lugares, assim como, no texto do filme. Comentários do tipo: Só podia ser uma ideia de brasileiro! O “cabeça” da operação é um cearense! Além de, outros, que externam um orgulho as avessas ou quem sabe, a única coisa que conseguimos nos orgulhar.
O filme não se torna totalmente abortável, pelo simples fatos de que os seus cortes de colagem, quebram a linearidade da história e as etapas que levaram até a operação final do roubo, externam, de uma forma explicita, a ineficiência dos serviços no Brasil e a morosidade nas investigações criminosas de grande porte.
Este mês, tivemos como candidatos ao posto de heróis da semana, os arquitetos da empreitada ao banco central, há alguns meses atrás, a história de uma prostituta com síndrome de revolucionária mártire, ou seja, que justifica a sua prostituição como forma de críticas à sociedade desigual e injusta. E amanhã? O mais novo fazendeiro milionário da TV Record ? Uma cantora alcoólatra e drogada? Um garoto de cabelo chapado que se assemelha a um ser assexuado? Um jogador de futebol promíscuo? Alguém que esteja disposto a expor a sua intimidade ao público? Enfim, os culpados a infeliz sina de heróis efêmeros são os candidatos ou os fãs?
Se teremos que viver com a eterna cruz da carência de heróis não temos como saber, porém, se esforçar para entender que, transferir as nossas expectativas e culpas, é mais fácil e alivia as angústias mas, pode trazer no futuro, danos irreversíveis e a impossibilitar a nossa candidatura ao cargo de herói de nossas vidas.



Kildery Amorim Maciel
27 de julho de 2011

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