Panegírico ao efêmero

Admitir que a primeira década do século XXI foi no mínimo sinônima de um espetáculo curto e obsoleto é entender que a satisfação está entre o correr para alcançar e logo largar. Os excessos vazios proliferam-se em uma progressão geométrica, bem como, as contradições. Outro aspecto a ser analisado é que, se pensarmos em termos de coletivo só nos foi concebido a oportunidades de desenvolvimento das nossas ferramentas hedonistas.
Em vista disso, a apologia dos contrários reinou, bem como se estendeu aos limites nunca então alcançados. O que antes parecia errado tornou-se certo, o que outrora era inconseqüência, bom senso passou a ser, a moral e a boa conduta perderam o bonde da história e ocuparam os espaços de uma vaga lembrança, as amizades deixaram de ser meio de sobrevivência mutualista para se restringir a fins egoístas de satisfações individuais, a afirmação e a negação desceram do palco antagônico e transformaram–se em uma moeda de uma só face, aquilo que condeno tornasse o que sou quando os meus interesses estão em jogo, o senso crítico, luz de orientação dos perdidos, passou a significar estado de devaneio contínuo e progressivo, a hipocrisia, antes vilão das lutas ideológicas, passou a protagonizar as filosofias de vida e as angústias e as incertezas, deixaram de ser combustível para as reflexões do ósio produtivo, para ocuparem o patamar dos norteamentos deste século.
Em meio a todas estas contradições, o que restou às situações coletivas? A satisfação individual atropelou a ética e abraçou a causa do desejo imediato. As abnegações em nome dos outros, dentro do convívio das diferenças, passaram a ser justificativa de uma insatisfação incomensurável e insaciável. A auto-ajuda só ajudou os autores de Best-seller em vez de um “conhece a ti mesmo” socrático.
Porém, com tudo só nos resta alguns questionamento: Somos humanos pelo fato de vivermos em sociedade, dividindo e abnegando as nossas vontades, em detrimento do convívio coletivo? Será que a progressão do hedonismo nos levará a barbária? O fato é, que se vivemos em um mar de incertezas e angústias latentes tão naturais no dia a dia, o mínimo que nos resta de consciência, reflexão e coragem devem nos nortear, como bússolas de orientação, nos oxigenar à luta, o nosso remar contra a maré e a busca constante de quimeras de mundo melhor de outrora, embora estas, estejam perdidas nesses fragmentos de possibilidades descartáveis.


Kildery Amorim Maciel

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